sexta-feira, 19 de outubro de 2007

ADEQUAÇÃO NO DAR OU RECEBER COM OU SEM PEDIDO ANTERIOR


ADEQUAÇÃO NO DAR OU RECEBER COM OU SEM PEDIDO ANTERIOR.
Um dos aspectos importantes da educação social, particularmente no que se refere à convivência e relacionamento com as pessoas, sem dúvida é o aprender a pedir, dar e receber equadamente.
Como sugere o cabeçalho deste texto, normalmente nós gostamos de receber. Às vezes pedimos algo. Mas muitas vezes não gostamos do que recebemos, mesmo quando nos tenha sido entregue de bom grado. Muitas vezes não somos atendidos em nossos pedidos, mesmo que a parte licitada deseje nos atender. Como adequar todas as situações a respeito desses assuntos?
Vamos refletir um pouco sobre isso? Repare bem que seria difícil dizer se, em sua maioria, as coisas dadas no mundo o são a pedido ou espontaneamente ou, em outras palavras, se as pessoas ao darem algo, predominantemente estão atendendo a alguém ou não.
Admitindo a primeira hipótese, isto é, a de que as pessoas recebem mais em resultado do que pedem do que por livre decisão de quem dá, não podemos nos esquecer dos incontáveis pedidos não atendidos...
E, a esse respeito, vale mencionar que, a meu ver, nunca devemos esperar nada de ninguém conforme demonstrado a seguir.
Se uma pessoa não tem uma perna e alguém lhe pede para sair correndo, é fácil antever que seu pedido não será atendido, mesmo que a pessoa solicitada queira. Mas nós não podemos saber o que vai no coração ou o que povoa a mente das pessoas. Não nos é dado conhecer quais os limites ou as possibilidades que cada um tem ou pensa ter.
Assim, toda vez que não tivermos certeza de que nosso pedido poderá ser atendido, devemos evitar fazê-lo ou, caso inevitável, ao pedir, nunca devemos contar com o atendimento do que pedimos, pois, caso contrário, correremos o risco de quando não atendidos, sofrermos inutilmente o desgaste e a frustração daí decorrentes e, o que é muito pior, causarmos também a frustração da pessoa a quem pedimos, o que ocorrerá sempre que ela for ou se sentir incapaz de nos atender, mesmo que queira ou quisesse...
Admitindo, por outro lado, a segunda hipótese acima citada, ou seja, a de que, na maioria das vezes, as coisas são dadas de uma pessoa a outra neste planeta espontaneamente, logo nos lembramos de quantos presentes já demos e recebemos em nossas vidas. Mas é certo que inúmeras vezes temos recebido presentes de que não gostamos. E certamente já demos muitos presentes de que não gostaram...
E isso é muito lamentável, dado que, na quase totalidade dos casos, o presentear é um ato de boa fé... Como então evitar ou tornar menos provável o presente mal recebido?
A palavra presente pode significar gerúndio verbal, aquele ou aquilo que se encontra ali ou se manifesta, o momento ou tempo atual. Mas o sentido em que nos estamos detendo é o de coisa dada espontaneamente, para agradar, retribuir ou servir de lembrança.
São três as principais características de qualquer presente:
1) O motivo de sua oferta.
2) O seu valor.
3) A sua utilidade.
1) Quem oferece um presente tem sempre um motivo real para fazê-lo, que pode ser declarado, falseado ou omitido. O ideal é que o recebedor conheça ou procure conhecer o verdadeiro motivo do presenteador, para que ele nem se engane, nem seja enganado a respeito...
2) Todo presente tem um valor material, conhecido ou possível de conhecer, que é sempre o mesmo, mas que pode ser considerado alto ou maior, ou baixo ou menor. É o valor que foi pago ou gasto por quem o oferece. Mas o valor mais importante de um presente é o imaterial, aquele subjetivamente atribuído, individual e separadamente, tanto por quem o oferece, quanto por quem o recebe, e será também alto ou baixo, maior ou menor, tendo sempre, o mesmo presente, um valor imaterial diferente para cada indivíduo. O ideal é que qualquer presente tenha sempre o mais alto valor imaterial, tanto para o doador quanto para o destinatário.
3) A utilidade é a característica mais fundamental para assegurar que um presente seja bem recebido pela pessoa agraciada. Uma das piores coisas que podem acontecer é recebermos um presente que nos foi dado com a melhor das intenções e não termos como fazer uso dele, mesmo querendo. Uma flor ou um poema são úteis em si mesmos, mas um sapato apertado não pode mesmo ser usado por nós... O ideal é que todo presente seja útil a quem o recebe.
Ao presentearmos alguém, precisamos nos preocupar em:
1º) Deixar claro o verdadeiro motivo por que o fazemos;
2º) Que este presente tenha, para nós, grande valor imaterial;
3º) Estejamos convencidos de que ele será útil ao recebedor.
Desta forma, tudo faz crer que nosso presente será bem recebido, independentemente do seu maior ou menor valor material...
Nesta questão do que se pede ou não, do que se recebe ou não, há um aspecto muito relevante, que é o dos pedidos feitos a Deus.
Devemos pedir a Ele qualquer coisa? Para quem? Devemos esperar ser atendidos ou não? Devemos aceitar de bom grado se não formos atendidos por Ele? Devemos fazer promessas para podermos ser atendidos? Pagá-las antes ou depois de alcançar a graça?
Como primeiro ponto, penso que se realmente cremos em Deus, não temos como fazer qualquer reparo a tudo que Ele fizer acontecer ou não. Aceitar totalmente a Sua vontade é decorrência natural e direta da nossa absoluta convicção de que Ele é justo e misericordioso, onisciente, onipresente e onipotente.
Julgo ser importante estar sempre com nossa consciência tranqüila perante Ele, para que possamos nos sentir confiantes quanto ao futuro. Para isso, nossa conduta e, sobretudo, nosso propósito, têm de estar de acordo com o que entendemos ser a Sua vontade para conosco.
Assim, conhecendo-nos e estando em paz com Ele, podemos pedir-Lhe tudo o que quisermos em favor de qualquer pessoa, ou de toda a humanidade, com ou sem promessas para reforçar nossos pedidos, pagando-as antecipadamente ou não, tendo sempre em mente que nossos pedidos serão ou não atendidos segundo os Seus desígnios.
Porém, a meu ver devemos evitar pedir a Deus qualquer coisa para nós mesmos, a não ser e exclusivamente que Ele nos ajude a aceitar a Sua vontade para conosco, caso isso nos pareça difícil demais. Por quê? Passo a explicar:
Já estive três vezes internado em Centros de Tratamento Intensivo (CTI) de Hospitais, correndo risco de morrer e notei depois que, apesar de ter natural amor pela vida, ser católico e rezar todo dia, não me ocorreu, nas três ocasiões, pedir a Deus pela minha vida.
Notei também que, em minhas orações, nunca peço para mim mesmo. Peço para meus parentes mais próximos, para alguém em particular em ocasiões graves, e sempre por toda a humanidade, porque creio na força das preces coletivas, como modo de fazer valer o poder do pensamento.
Por outro lado, de tudo que quero para mim Ele sabe, portanto não preciso lembrar-Lhe. Cada uma das coisas que eu quero para mim é do Seu conhecimento, e eu a terei, ou não, segundo o meu merecimento e a Sua vontade, logo, não cabe qualquer pedido a Ele para mim mesmo, a não ser, caso isso venha um dia a acontecer, para que Ele me ajude a aceitar a Sua vontade com relação a mim, se isso me parecer, um dia, difícil de suportar.
Aliás, a bem da verdade, fiz durante alguns anos de minha vida um único pedido para mim a Deus: Que Ele me indicasse, através de sinais que eu pudesse perceber, com qual dentre as minhas namoradas na época, eu deveria me casar. Isto felizmente ocorreu, a meu juízo, o que se constituiu numa das condições quando tomei essa decisão.
Ao longo dos oito anos de namoro com minha mulher, creio haver recebido três sinais claros de Deus para que me casasse com ela.
Sempre pensei que só se deve ter um único casamento com prole durante nossa existência. Acho que só cabe um segundo matrimônio caso todos os filhos do primeiro já estejam criados e independentes, havendo ainda tempo de criar a segunda prole antes da nossa velhice.
Tinha consciência de que nunca me casaria por interesse ou conveniência, sob qualquer tipo de pressão, por sentimento de culpa ou solidão, como reparação ou compensação de algum erro ou desilusão, para ser solidário ou bondoso ou manter alguém a meu lado, ou por amor exclusivamente.
Meu casamento somente poderia ocorrer quando, além de sentir e acreditar que existia amor entre mim e minha mulher, eu tivesse convicção de que devia me casar com ela.
Por outro lado, sempre considerei o casamento a mais difícil, séria e longa decisão de minha vida, por ser a única da qual dependeria diretamente o nascimento e a vida de seres humanos, como também a única cujo sucesso não dependeria principalmente de mim e sim intrínseca e igualmente também de outra pessoa e só poderia ser totalmente obtido após o descendente mais jovem estar completamente educado, isto é, plenamente preparado para viver por conta própria, o que demanda, em média, cerca de vinte anos.
Assim, resolvi pedir a ajuda de Deus, por me reconhecer incapaz de, sem ela, ter confiança no futuro de meu casamento.
Espero que as idéias acima, caso você concorde com elas e as venha a adotar, possam ser úteis em sua vida, permitindo-lhe evitar muitos problemas e frustrações a si e aos outros e melhor lidar com Deus e com as questões relacionadas com as coisas que damos ou recebemos, com ou sem pedido anterior.

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